Plim-plim - A peleja de Brizola contra a fraude eleitoral


        Plim-plim revela a obscenidade das relações entre mídia e poder na ditadura militar a partir da tentativa de fraude eleitoral contra Brizola, em 1982, quando quase foi impedido de assumir o governo do Rio. A obra de Paulo Henrique Amorim e Maria Helena Passos não permite leituras em escalas de cinza. É preto no branco. É branco no preto.
Diz-se que a dúvida move as descobertas. E que o bom jornalismo seria, antes de tudo, o exercício da curiosidade. As descobertas que Paulo Henrique Amorim e Maria Helena Passos trazem à tona, com o livro Plim-plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral, não foram motivadas, em princípio, por dúvidas que eles tivessem. Foram abastecidas com a certeza de que havia algo de errado nas eleições para o governo do Rio de Janeiro em 1982, quando o então candidato Leonel Brizola bradava que uma fraude poderia impedir seu acesso ao Palácio das Laranjeiras. A certeza era cristalina: não só havia uma fraude em curso, como também a Rede Globo e o jornal O Globo tinham participam direta no caso.
O livro tem um mérito especial, entre tantos outros: o de revelar a obscenidade das relações entre poder e mídia na história recente do país. E o de funcionar como um contra-discurso no processo de beatificação da figura de Roberto Marinho pelo mercado editorial (vide os livros Jornal Nacional, 35 anos e Roberto Marinho, da Jorge Zahar, e Dr. Roberto, das Edições Consultor). O livro surge como um esforço para que o processo de sua canonização em curso seja honesto com a realidade histórica. A revista Carta Capital já trouxe reportagem de capa sobre a construção da santidade de Marinho, a despeito das histórias mal explicadas que marcaram sua carreira. É importante notar que, apesar de ter sido escrito por Amorim, o livro é publicado em uma editora que representa um espaço alternativo no campo das letras. Uma espécie de porta para os editorialmente enjeitados. 
Brizola, já velho, mas ainda ostentando seu peculiar vigor político, parecia um messias louco quando perguntado sobre a Globo. Por experiência própria - a experiência de 1982, em especial - foi o primeiro a sugerir que o sistema eletrônico de votos poderia dar margem a manipulação. Um olhar distante parecia revelar-nos algo de conspiratório demais em seu discurso. Sua fala era permeada por uma desconfiança latente, inconfortável para os tempos de redemocratização. Mas, depois de enfrentar canetas com tinta que sumia horas depois de usadas para escrever nas cédulas, além de uma contagem de votos da qual se devia desconfiar, da ponte aérea SNI-Globo e da contratação da empresa Proconsult para a apuração dos votos, a anunciação da vitória de Brizola - um mês depois - foi um feito particularmente triunfal.
Este livro não permite leituras em escalas de cinza. Foi escrito em água-forte. É preto sobre branco (embora talvez a metáfora do branco sobre o preto fosse mais adequada). A apuração dedicada dos fatos, a busca de arquivos, a comparação de coberturas contemporâneas e a coragem de revelar o testemunho dos quem viram os dias sombrios de uma ditadura que começava a receber a extrema-unção nas urnas não permitem que seja lido como uma interpretação, apenas. 
Não se trata, para Paulo Henrique Amorim, de um caso. Trata-se de uma causa. Tanto que vai encaminhar a renda do livro para a Fundação Brasil Limpo, entidade que terá por objetivo investigar as relações entre televisão e ditadura no Brasil. Ele promete voltar.

Plim-Plim - a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral

Paulo Henrique Amorim e Maria Helena Passos
232 págs. - Conrad Editora.